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Definição

Você não leu errado, eu não escrevi errado, é aleGRia mesmo.  

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Comecei a trabalhar com alergia alimentar (AA) em 2003. Na época ainda havia poucos estudos e casos diagnosticados a respeito. Em 2005, durante um atendimento, eu me ouvi dizendo a uma família: “a partir de agora é importante que vocês façam mais refeições em casa, prefiram os alimentos in natura e evitem os industrializados, pois nem sempre temos as informações precisas sobre os ingredientes e modo de preparo. Se vocês puderem, seria melhor não colocar seu bebê na escolinha tão cedo, pois é difícil delegar um cuidado tão específico para uma professora que cuida de 10 crianças ou mais ao mesmo tempo”.​

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Quando a família foi embora eu pensei: “nossa, acho que a alergia alimentar está trazendo um presente para nós. Ela está mobilizando uma mudança na vida das famílias que, na verdade, é o que orientamos sobre alimentação saudável e a forma como todas as crianças deveriam ser cuidadas nessa idade”. Deixei essa informação guardada em mim e passei a observar tudo com essa ótica desde então.  

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Ao longo desses anos eu observei e os estudos confirmaram que os principais fatores ambientais associados à alergia alimentar são: 1) alteração da microbiota intestinal, devido ao aumento de cesáreas e redução de partos normais, dieta pobre em fibras, uso indiscriminado de medicamentos, principalmente antibióticos e inibidores de ácido gástrico; 2) desmame com introdução precoce de fórmula infantil à base de leite de vaca; 3) a teoria da higiene; 4) exposição a alimentos processados, ultraprocessados e transgênicos; 5) oferta tardia de alimentos sólidos para as crianças (bem após os seis meses).

Se pararmos para refletir, todos esses fatores estão associados ao excesso de intervenção em processos fisiológicos e naturais.  

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“Em 1963 o autor Edward Lorenz descreveu um fenômeno que denomina de efeito borboleta: “o bater de asas de uma simples borboleta pode influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo”.

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Diante do exposto, arrisco-me a compartilhar uma hipótese: "será que a alergia alimentar é o efeito borboleta do excesso de intervenção humana? "  

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Observo que enfermidades que acometem crianças, em grande proporção e no mundo todo, estão a serviço do carma coletivo da humanidade, não apenas das famílias dessas crianças, uma vez que as mudanças exigidas pelo tratamento envolvem muitos setores.

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O que faz da alergia alimentar um problema de saúde pública hoje não é sua prevalência ( em torno de 10% das crianças menores de 3 anos) e sim o fato do seu tratamento mobilizar:

- as famílias a mudarem o comportamento alimentar e social de forma drástica; 

- o governo a desenvolver protocolos e assumir a segurança dessas crianças/pessoas perante muitos setores;

- a indústria de alimentos a rastrear e rotular os alérgenos alimentares nos produtos industrializados;

- todo sistema educacional a refletir sobre inclusão; 

- todos os profissionais de saúde a mudarem a forma de atender, pois na alergia alimentar não há um exame que dá um diagnóstico e, em seguida, um remédio.

- entre tantos outros setores. 

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O tratamento da alergia alimentar está mobilizando e trazendo mudanças (necessárias) a todos nós. 

           

Observo, ao longo desses anos, que o tratamento da AA está denunciando muitas coisas que estão em desequilíbrio e se mantinham ocultas aos nossos olhos; por exemplo: a necessidade de ler o rótulo dos alimentos de forma minuciosa nos permitiu perceber que muitos ingredientes foram substituídos por aditivos sintéticos, ou seja, alguns alimentos que consumíamos quando crianças não são mais os mesmos, apesar de terem o mesmo nome. A qualidade nutricional dos alimentos ultraprocessados caiu muito nos últimos anos. 

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Do ponto de vista sistêmico e psicoemocional, a necessidade de restrição alimentar tem deflagrado dinâmicas difíceis nas famílias, como: o medo da reação, o medo da morte, o medo da rejeição, a sensação de exclusão e abandono. Esses medos e sentimentos de exclusão são geralmente associados à dieta, porém, ao acompanhar as famílias, percebo que essas dinâmicas já existiam antes da criança nascer e a alergia alimentar foi a porta de acesso para que esses medos pudessem ser vistos por toda família. 


Outro ponto importante sobre o tratamento da alergia alimentar é que ela tem proporcionado a reconexão das famílias com a seleção e o preparo dos alimentos, com a nutrição. Com isso, alguns valores que havíamos perdido passaram a ser resgatados, como preferir o consumo de alimentos in natura, preparar alimentos em casa e realizar refeições em família.

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Mudar um comportamento é muito difícil para um adulto. Por quem um adulto é capaz de mover montanhas? Pelos filhos. Por isso, precisou ser assim.   

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Assim, a alergia alimentar está nos reconectando com o natural. 

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Chegamos no ponto extremo de uma estrada e a alergia alimentar é a placa de retorno.

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Alguns podem se perguntar, mas a Renata está querendo retroceder?

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Não é retroceder, é encontrar o caminho do meio entre a sabedoria da natureza e o conhecimento humano. É agir com consciência. 

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O que nos acontece é sempre para melhor.

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A doença é uma mensageira, algo ou alguém traz uma informação que precisa ser vista e está a favor da cura, da saúde de todo um sistema.  

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Dentro da minha percepção, essa é a informação que a alergia alimentar está nos trazendo.

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Assim, ela está a serviço da saúde. 

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O tratamento da alergia alimentar é a sua própria cura - a cura de todos nós. 

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Percorrer esse caminho é sair do medo da morte e seguir em direção ao SIM para a vida.

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É uma jornada da aleRGia à aleGRia,

  

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Como podemos prevenir alergia alimentar?

O que eu compreendo diante do que os estudos mostram?

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Resposta: VOLTE AO NATURAL.  

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PROBIÓTICOS:  

- Opte pelo parto vaginal, salvo exceções em que mãe ou bebê correm risco.  

- Evite o uso abusivo de medicamentos, principalmente antibióticos e inibidores de ácido gástrico.  

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PREBIÓTICOS, PROBIÓTICOS E MENOR EXPOSIÇÃO A ALÉRGENOS: 

- Amamente o bebê na primeira hora de vida, garanta o aleitamento materno exclusivo até o 6º mês e complementar à alimentação até 2 anos ou mais.

- Evite a introdução precoce de leite ou fórmulas à base de proteína do leite de vaca. A fórmula oferecida na maternidade é uma das principais causas de APLV e, na maioria dos casos, ela não é realmente necessária.

- Garanta uma boa alimentação, rica em alimentos in natura, isentos de agrotóxicos e insumos químicos, preferencialmente não modificados geneticamente.  

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EVITE ALIMENTOS INDUSTRIALIZADOS E TRANSGÊNICOS 

- Prepare mais alimentos em casa e realize refeições em família.  

- “Hand made” - nossas mãos transmitem afeto, carinho, cuidado.  

- Menos “touch” em máquinas/objetos e mais toques na pele, na alma e no coração.  

- Toque na pele do seu bebê.

- Mãe, o leite da lata não é melhor do que o seu. É do seu colo, do seu cheiro e da sua pele que ele precisa.   

- Toque na terra. Alimentos plantados pelas mãos recebem e transmitem esse cuidado. As sementes plantadas sem intervenções recebem a luz do sol, resistem às intempéries. São fortes. Elas possuem mais que nutrientes, são fontes de energia vital.  

- Evite alimentos modificados. A transgenia é a modificação do DNA de uma semente. Isso está alterando a forma como o alimento é reconhecido pelo sistema imune e atua no organismo.  

- Diga sim à natureza e ao que ela traz. Querer mudar a natureza é uma prepotência. A natureza não precisa de nós, nós é que precisamos dela. Esse é um aprendizado da humildade. 

- Conheça a procedência dos alimentos e procure os pequenos produtores rurais. Valorize quem está perto de você.   

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NÃO RETARDE E NEM ADIANTE A INTRODUÇÃO DE ALIMENTOS SÓLIDOS 

- Inicie a alimentação complementar do bebê aos seis meses, com os mesmos cuidados citados acima com relação à escolha dos alimentos. Essa é a idade em que o bebê dá sinais que está pronto para comer do ponto de vista neuropsicomotor. Todos os órgãos e sistemas estão integrados e em ressonância no organismo, os sinais do sistema neuropsicomotor são congruentes com a maturação fisiológica e imunológica e mostram o organismo do bebê está pronto para receber alimentos. 

- Alimente o bebê de forma responsiva.

-  Respeite-o na hora de oferecer alimentos, olhe para ele. Um bebê não pega e não leva à boca um alimento que lhe fará mal. O corpo dele sabe, é só observar.  

- Olhe mais para a crianças, elas nos dão todas as respostas.  

 

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O CONTATO COM ALGUNS MICRO-ORGANISMOS AJUDAM A PREVENIR DOENÇAS ALÉRGICAS E AUTOIMUNES   

- Não tenha medo de sujar o bebê. 

Deixe a criança brincar, colocar o pé na grama, sentir o chão, trocar brinquedos com outras crianças.  

Uma coisa é higiene, outra é a histeria com o estéril.  

Temos dez vezes mais o número de microrganismos no corpo do que de células.

Alguns garantem a nossa sobrevivência e estão aqui para nos ajudar. 

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- Se for possível para as famílias, evite a escolarização precoce das crianças (antes dos 2 anos).

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O problema não é a criança se sujar ou brincar com outras crianças. O que está deixando as crianças frequentemente doentes é o contato precoce (antes dos 2 anos) com muitas pessoas diferentes ao mesmo tempo. As famílias são cada dia menores e o contato com outras crianças é quase nenhum; ao iniciar a vida escolar elas passam a conviver com muitas crianças ao mesmo tempo. Elas não trocam apenas brinquedos, mas também microorganismos. Quando uma começa sarar, a outra adoece. É um revezamento de bichinhos, “sara de uma bactéria, pega um vírus, sara do vírus pega um fungo e assim por diante. Se isso acontece quando o sistema imunológico está maduro, elas possuem defesas e o organismo consegue lidar. Mas a maioria têm entrado na escola antes dos dois anos, fase em que o sistema imunológico ainda não está pronto. 

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VITAMINA D    

- Veja o sol, passeie com sua família, saia de casa, vá para o jardim, olhe nos olhos das pessoas.

Muitas vezes, o medo de uma reação  e o medo da morte faz as famílias se isolarem e se fecharem em casa. Com isso, a criança passa a brincar menos e se expor menos ao sol.

Ver a luz do dia nos traz alegria e nos conecta com a VIDA.  

O Sol é a luz de Deus na Terra. Vitamina D de Deus.

Deixe a luz atravessar sua pele e chegar até o seu coração.

É dessa vitamina que as pessoas estão deficientes hoje em dia.

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VIVA COM ALEGRIA  

Alimentos trazem vida e compartilhá-los é motivo de alegria, não de medo.  

A alergia alimentar está nos mostrando o caminho de volta para a saúde.

Por isso eu a vejo com alegria e meu trabalho se chama ALEGRIA ALIMENTAR. 

  

Referências: 

  • Nowak-Wegrzyn A, Chalchatee P. Mechanisms of Tolerance Induction. Ann Nutri Metab 2017; 70 (suppl 2):7-24.  

  • Fujimura KE et al. Neonatal gut microbiota associates with childhood multisensitized atopy and T cell differentiation. Nature Medicine. 2016;22(10).  

  • Luyt D, Ball H, Makwana N, Green K, Brasvin S, Nasser SM, et al. BSACI guideline for the diagnosis and management of cow’s milk allergy. Clin Exp Allergy. 2014;44(5):642-72. 

  • Hellinger, B. A cura: tornar-se saudável, permanecer saudável. Belo Horizonte: Atman, 2014. 144p.  

Alergia alimentar

ALERGIA ALIMENTAR (AA) é uma resposta imunológica adversa e reprodutível que ocorre após a exposição de um determinado alimento, geralmente à proteína. 

É distinta das demais reações adversas a alimentos, tais como intolerância alimentar, reações farmacológicas e reações mediadas por toxinas, já que ela envolve o sistema imune (sistema de defesa do organismo).

 

A alergia alimentar (AA) afeta até 10% das crianças em idade pré-escolar e continua a aumentar em prevalência em muitos países. Atualmente é considerada um problema de saúde pública, com implicações práticas para a indústria de alimentos, estabelecimentos educacionais e sistemas de saúde.

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Os oito alimentos mais alergênicos são leite, soja, ovo, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar.

A alergia ao leite, ovo, soja e trigo são mais comuns na infância, enquanto a alergia ao amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar são mais comuns na idade adulta.

 

Segundo a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN), a prevalência de alergia à proteína do leite de vaca (APLV) em crianças até três anos é de 2 a 3%.

Nem tudo é alegia
Nem tudo é alergia

Há cerca de dez anos a alergia alimentar era considerada uma enfermidade rara. Porém, isso se inverteu rapidamente: saímos de uma época em que nada era considerado alergia para outra em que todo sintoma apresentado pela criança tem sido associado ao problema.

Nem toda reação a alimentos é AA e o super diagnóstico tem se tornado comum. A necessidade de distinguir a sensibilização de alérgenos alimentares da verdadeira reatividade clínica é crucial no diagnóstico a fim de evitar a restrição dietética desnecessária

 

REAÇÕES ADVERSAS A ALIMENTOS (RAA): qualquer reação anormal à ingestão de alimentos, independente de sua natureza. São classificadas em tóxicas e não tóxicas.

RAA tóxicas: estão associadas à substância ingerida (ex: toxinas bacterianas presentes em alimentos contaminados) ou das propriedades farmacológicas de determinadas substâncias presentes nos alimentos (ex: cafeína presente no café).

RAA não tóxicas: estão diretamente associadas à suscetibilidade individual e são classificadas em não-imunomediadas (ex: intolerância alimentar) e imuno-mediadas (alergia alimentar).

Os sintomas decorrentes da intolerância ou de uma reação tóxica a alimento podem eventualmente ser confundidas com o diagnóstico de alergia alimentar, uma vez que alguns são comuns (ex: diarreia, distensão e desconforto gástrico).

 

Além das reações adversas, há também as reações decorrentes de substâncias naturalmente presentes nos alimentos, por exemplo, compostos fenólicos presentes nas leguminosas que fermentam e causam gases, ácidos orgânicos que estão em algumas frutas como mamão, laranja e ameixa, que soltam o intestino.

 

É imprescindível saber que existem diferentes reações adversas aos alimentos.  Na vigência de sintomas sugestivos é importante consultar um profissional especializado a fim de distinguir uma reação fisiológica ou tóxica da alergia alimentar e não estimular restrições alimentares desnecessárias. 

Há cerca de dez anos a alergia alimentar era considerada uma enfermidade rara. Porém, isso se inverteu rapidamente: saímos de uma época em que nada era considerado alergia para outra em que todo sintoma apresentado pela criança tem sido associado ao problema.

Nem toda reação a alimentos é AA e o super diagnóstico tem se tornado comum. A necessidade de distinguir a sensibilização de alérgenos alimentares da verdadeira reatividade clínica é crucial no diagnóstico a fim de evitar a restrição dietética desnecessária

 

REAÇÕES ADVERSAS A ALIMENTOS (RAA): qualquer reação anormal à ingestão de alimentos, independente de sua natureza. São classificadas em tóxicas e não tóxicas.

RAA tóxicas: estão associadas à substância ingerida (ex: toxinas bacterianas presentes em alimentos contaminados) ou das propriedades farmacológicas de determinadas substâncias presentes nos alimentos (ex: cafeína presente no café).

RAA não tóxicas: estão diretamente associadas à suscetibilidade individual e são classificadas em não-imunomediadas (ex: intolerância alimentar) e imuno-mediadas (alergia alimentar).

Os sintomas decorrentes da intolerância ou de uma reação tóxica a alimento podem eventualmente ser confundidas com o diagnóstico de alergia alimentar, uma vez que alguns são comuns (ex: diarreia, distensão e desconforto gástrico).

 

Além das reações adversas, há também as reações decorrentes de substâncias naturalmente presentes nos alimentos, por exemplo, compostos fenólicos presentes nas leguminosas que fermentam e causam gases, ácidos orgânicos que estão em algumas frutas como mamão, laranja e ameixa, que soltam o intestino.

 

É imprescindível saber que existem diferentes reações adversas aos alimentos.  Na vigência de sintomas sugestivos é importante consultar um profissional especializado a fim de distinguir uma reação fisiológica ou tóxica da alergia alimentar e não estimular restrições alimentares desnecessárias. 

Alergia X Intolerâcia
Alergia x Intolerância

ALERGIA AO LEITE DE VACA NÃO É O MESMO QUE INTOLERÂNCIA À LACTOSE

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A Intolerância à lactose é uma reação fisiológica do organismo decorrente da ausência ou diminuição na síntese de lactase, comum em adultos e idosos.  Na IL, como a lactose (açúcar do leite) não será digerida completamente, a pessoa intolerante poderá apresentar sintomas de má digestão como flatulência (gases), distensão abdominal, dor de cabeça e diarreia mediante ao consumo de alimentos com lactose. Na IL os sintomas são apenas gastrintestinais! 

O tratamento da IL é dose dependente, ou seja, a pessoa pode consumir a quantidade de alimentos com lactose que ela tolera sem apresentar sintomas.

Algumas pessoas conseguem tolerar alimentos preparadas com pouca quantidade de leite, como um biscoito sem recheio ou bolo simples. Derivados fermentados, como queijos e iogurtes, também podem ser tolerados: as bactérias consomem a lactose como fonte de energia durante o processo de fermentação do leite. 

 

APLV não é o mesmo que intolerância à lactose (IL).

A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é a AA mais comum na infância e pode acometer cerca de 2 a 3% dessa população.

A alergia é uma reação do sistema imune às proteínas do leite, por exemplo: caseína (proteína do coalho), alfa-lactoabumina e beta-lactoglobulina (proteínas do soro). As reações podem ser intestinais, cutâneas, respiratórias ou até sistêmicas (exemplo: reação anafilática).

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O tratamento da APLV consiste em retirar todos os alimentos com as proteínas do leite da dieta, inclusive derivados e alimentos preparados com esses ingredientes. Infelizmente existem casos em que mínimas quantidades de proteínas do leite podem ser suficientes para desencadear a reação em uma criança com alergia ao leite.

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É preciso dissociar a expressão lactose do tratamento da alergia ao leite, pois alguns alimentos sem lactose possuem as proteínas do leite (Ex: leite sem lactose).

Os leites e derivados sem lactose, reduzido em lactose ou com baixo teor de lactose são acrescidos da enzima lactase. Como a lactose será digerida pela enzima muitas pessoas com IL conseguem tolerar. Mas esses alimentos possuem as proteínas do leite e não poderão ser oferecidos para crianças com APLV.  

A manteiga Ghee é outro exemplo de derivado de leite reduzido em lactose, mas que possui as proteínas do leite. Durante o processo de clarificação da manteiga boa parte da lactose é removida, mas, por ser à base de manteiga, possui uma quantidade remanescente de proteínas do leite que poderá causar reações em crianças alérgicas.

É preciso sempre checar a composição dos alimentos rotulados como “sem lactose” para saber se eles realmente são isentos de ingredientes à base de leite de vaca.

Tipos de reaçõs e manifestações clínicas
Tipos de reações e
manifestações clínicas

As reações decorrentes da AA são classificadas em:

 

- Mediadas por IgE: reações imediatas que aparecem até 2 horas após a ingestão do alérgeno.   

Ex: urticária (placas vermelhas na pele), broncoespasmo (dificuldade para respirar), edema de lábio e olhos, síndrome da alergia oral, anafilaxia (reação grave, pois pode acarretar edema de glote e parada respiratória).

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- Não mediadas por IgE, ou mediadas por células: reações tardias, podem aparecer horas ou dias apósa ingestão do alérgeno.

Por não serem mediadas por IgE, o resultado dos testes alérgicos que medem a presença de IgE específica para alimentos geralmente são negativos e isso não descarta a hipótes de alergia alimentar.   

 

Ex: enteropatia induzida por proteína alimentar (diarreia, baixo ganho de peso e crescimento), enterocolite induzida por proteína alimentar (diarreia, presença de sangue nas fezes), proctocolite alérgica (fezes em consistência normais, ganho de peso adequado, com presença de raias de sangue nas fezes em bebês. Crianças maiores podem apresentar obstipação intestinal refratária aos tratamentos convencionais).  

 

FPIES (síndrome da enterocolite induzida por proteína alimentar) é uma reação não mediada por IgE grave, pois pode levar à rápida desidratação seguida de diminuição do volume sanguíneo e choque).

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- Mistas: reações tardias, normalmente envolvem os dois mecanismos e podem demorar horas ou dias após a ingestão do alérgeno para aparecer.

Ex: doença do refluxo gastroesofágico em bebês (o resultado dos testes alérgicos geralmente são negativos). 

Dermatite atópica moderada-grave (pele ressecada, com descamação e, às vezes lesões). Nesses casos o resultado dos testes alérgicos geralmente são positivos, mas devem ser analisados com a história clínica e resposta à dieta. 

Esofagite e gastroenterite eosinofílica (inflamação do esôfago, estômago ou intestino, com presença de eosinófilos na mucosa, decorrente de alergia alimentar). Nesses casos o resultado dos testes alérgicos pode ser positivo para algumas pessoas, mas o mais comum é ser negativo.  

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A criança pode apresentar uma ou mais reações concomitantes. 

É importante ressaltar que os sintomas de alergia alimentar também são comuns a outras enfermidades pediátricas. Portanto, sua presença não é uma confirmação imediata que a criança tem AA. 

Na vigência de sintomas sugestivos de AA é preciso procurar um especialista e fazer toda investigação diagnóstica. 

Apenas o médico pode concluir o diagnostico de alergia alimentar. 

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Referências:

Fiocchi A, Schünemann HJ, Brozek J, Restani P, Beyer K, Troncone R, Martelli A, Terracciano L, Bahna SL, Rancé F, Ebisawa M, Heine RG, Assa'ad A, Sampson H, Verduci E, Bouygue GR, Baena-Cagnani C, Canonica W, Lockey RF. Diagnosis and Rationale for Action Against Cow's Milk Allergy (DRACMA): a summary report. J Allergy Clin Immunol. 2010 Dec;126(6):1119-28.

 

Koletzko, Niggemann B, Arato A, Dias JA, Heuschkel R, Husby S, et al. Diagnostic approach and management of cow’s milk protein allergy in infants and  children: A practical guideline of the GI-committee of ESPGHAN. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2012;55:221-9.

 

Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2007. Rev. bras. alerg. imunopatol. 2008; 31 (2): 64-89.

Sampson et AL. Food allergy: A practice parameter update. J ALLERGY CLIN IMMUNOL. 2014: 1 a 10e43.

Solé, et al. Guia prático da APLV mediada pela IgE - ASBAI & SBAN. Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 35. N° 6, 2012

Diagnóstico

O diagnóstico da alergia alimentar não é de fácil manejo e deve ser realizado com base em quatro pilares: história clínica, exames, dieta isenta do alérgeno suspeito, teste de provocação oral.

 

1. História Clínica:

A história clínica é o primeiro critério devido à sua importância.

É preciso verificar se os sintomas realmente estão associados a alimentos e se podem ser considerados como reações alérgicas.

Muitos sintomas da alergia alimentar se confundem com sintomas fisiológicos do bebê, alguns alimentos causam sintomas e isso não é uma reação alérgica (ex: mamão solta o intestino, feijão fermenta e aumenta a formação de gases), nem toda reação de pele é sintoma de alergia alimentar, nem todo cocô líquido é diarreia.

Se a história clínica realmente for relevante, os próximos passos deverão ser seguidos para continuar a investigação.

 

2. Exames:

Os testes alérgicos que medem a presença de IgE específica para os alimentos no sangue (ImmunoCap) e na pele (prick test) podem ser solicitados para auxiliar na investigação diagnóstica.

Porém, mesmo que o resultado desses exames seja negativo, não é possível descartar a hipótese de alergia alimentar. Isso porque algumas reações, denominadas não mediadas por IgE, não aparecem no exame de sangue e de pele.

Também não é possível confirmar o diagnóstico apenas com o resultado positivo desses testes, pois eles indicam que a criança é sensível àquele alimento, não necessariamente alérgica. A pessoa pode apresentar IgE positiva no teste e não apresentar reação ao consumir o alimento. Só é considerado alergia quando o indivíduo apresenta reação ao consumir o alérgeno.  

Exames como colonoscopia, endoscopia, etc. são muito invasivos e não concluem o diagnóstico de alergia alimentar. Eles devem ser solicitados quando a criança não responde favoravelmente à dieta para pesquisar outras doenças intestinais.

 

Os exames que medem a presença de IgE específica para os alimentos podem auxiliar no diagnóstico, porém não concluem o diagnóstico sozinhos – nem em caso positivo e nem em caso negativo – precisam ser analisados com a história clínica e a resposta à dieta.


 

ATENÇÃO: Os exames que medem a presença de IgG específica para alimentos (sangue ou saliva) não são indicados para diagnóstico de alergia alimentar.

A interpretação desses exames tem sido realizada de forma equivocada e eles não são recomendados pelas principais sociedades médicas internacionais e nacionais na área. A realização desses exames tem confundido as famílias e profissionais, acarretando erros graves de diagnóstico além de encarecer o tratamento da alergia alimentar.

 

Veja a opinião de sociedades e associações médicas internacionais sobre esse tema

www.sciencebasedmedicine.org/igg-food-intolerance-tests-what-does-the-science-say/  

 

Ainda sobre esse assunto, é importante enfatizar que o diagnóstico de alergia alimentar é de competência do médico. O nutricionista tem o papel de auxiliá-lo na investigação diagnóstica, determinar o diagnóstico nutricional e definir a conduta dietética que o paciente irá seguir.

O trabalho interdisciplinar otimiza a atuação dos profissionais e beneficia o paciente que é assistido em todas as suas necessidades.  

 

3. Dieta isenta do alérgeno suspeito:

A partir da história clínica e dos exames laboratoriais, pode-se estabelecer a suspeita de alergia alimentar e o alimento associado aos sintomas.

Se a suspeita clínica é relevante, a dieta deve ser realizada para confirmar a hipótese de AA, mesmo que os testes alérgicos sejam negativos.

Em bebês, a AA mais prevalente é à proteína do leite de vaca. Portanto, esse é o primeiro alimento suspeito.

Na APLV a dieta deverá ser isenta de leite, derivados e todos os alimentos e medicamentos preparados com ingredientes à base de proteína do leite de vaca, inclusive seus traços.

Apesar de nem todas as crianças reagirem a traços, na fase de diagnóstico é recomendado restringi-los a fim de minimizar todos os possíveis fatores de confusão e atrasos. Após a confirmação diagnóstica, os alimentos com traços deverão ser testados a fim de confirmar se a criança realmente reage. Em caso negativo esses alimentos deverão ser liberados na dieta.  

Crianças em aleitamento materno com suspeita de alergia ao leite de vaca

Em crianças amamentadas, o leite materno deverá ser mantido. Se a criança não apresentou reações durante o aleitamento materno exclusivo (AME) e os primeiros sintomas ocorreram após a introdução da fórmula ou alimento com a proteína do leite de vaca, a mãe poderá retornar ao AME sem fazer a dieta.

Todavia, se a criança apresentou sintomas durante o AME, a mãe poderá manter a amamentação, mas deverá fazer a dieta, pois as proteínas do leite que ela consome podem ser veiculadas via leite materno, desencadeando as reações na criança. Nesses casos, o acompanhamento da dieta da mãe é imprescindível para se certificar que não há deficiência na ingestão de nutrientes, pincipalmente de micronutrientes presentes no leite, como o cálcio.

A dieta da mãe que amamenta deverá ser restrita apenas do alimento suspeito. Não se deve retirar todos os alérgenos e outros alimentos por medo. Práticas como essa não têm eficácia comprovada, não previnem outras alergias, podem levar a carências nutricionais para a mãe e o bebê, tornam a dieta mais difícil de ser executada e podem favorecer o desmame.

 

O leite materno é melhor alimento para o bebê e deve ser mantido!

Por favor, não desmamem os bebês por suspeita de APLV.

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Crianças que foram desmamadas:

Em casos de crianças que não são mais amamentadas, as fórmulas à base de leite de vaca deverão ser substituídas por fórmulas especializadas para crianças com alergia ao leite até os 2 anos de idade.

Os 3 tipos encontrados no mercado são: fórmulas à base de aminoácidos (não alergênicas), à base de proteína do soro do leite, caseína ou arroz extensamente hidrolisada (hipoalergênicas) e à base de soja.

Como a soja também é um alimento alergênico, existem restrições no seu uso e as Sociedades Européias de Gastroenterologia e Alergia Pediátrica, a Academia Americana de Pediatria e o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar não as indicam para crianças menores de 6 meses e como primeira opção de fórmula em casos de reações não mediadas por IgE, devido ao risco de alergia concomitante à soja.

 

Crianças maiores de 2 anos:

 

Em casos de crianças maiores é preciso se atentar aos mesmos cuidados com a dieta materna, como leitura de rótulos de produtos industrializados, substituição do alérgeno em preparações, como lidar em situações especiais como festas, escola, etc.

 

Quadro 1: Tempo de dieta, segundo o tipo de reação

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Fonte: Koletzko, et al. Diagnostic approach and management of cow’s milk protein allergy in infants and children: A practical guideline of the GI-committee of ESPGHAN. JPEG, 2012

 

Crianças que não apresentaram remissão dos sintomas após o período de dieta

Se os sintomas não passarem é preciso pesquisar:

1) Se a criança ainda está consumindo alimentos ou medicamentos que possuem o alimento suspeito por engano, por exemplo, as proteínas do leite.  

2) Se a criança está reagindo a outro alimento ou, em caso de crianças não amamentadas, se está reagindo à fórmula usada para substituir o leite (por exemplo a soja). 

3) Se a causa dos sintomas não é alergia ao leite. Se após a investigação dos itens 1 e 2 for observado que está tudo certo na dieta e os sintomas ainda persistirem, pode ser que o diagnóstico não seja AA.

 

Apesar de todo sacrifício, pode acontecer a criança ou da mãe que amamenta ingerir o alérgeno, sem saber, em alimentos que ela desconhecia sua presença. Por exemplo, alguns embutidos como o salame podem conter leite em pó.

Se a dieta realmente estiver correta, em caso de bebês com sintomas gastrintestinais, com diagnóstico de esofagite eosinofílica ou dermatite atópica (de moderada à grave), podemos suspeitar também de alergia à soja, ovo ou trigo.

Em caso de crianças com FPIES, pode-se suspeitar também de alergia à soja, arroz e aveia.

Outros alimentos só deverão ser retirados da dieta se realmente houver relevância com a história clínica apresentada pela criança.

 

Crianças que apresentaram remissão dos sintomas após o período de dieta

Se os sintomas passaram é preciso passar para a próxima etapa: o Teste de Provocação Oral, que tem o objetivo de confirmar se a criança realmente reage àquele alimento.

 

Teste de provocação oral (TPO)

O TPO é um procedimento muito importante para confirmar o diagnóstico e para evitar que a criança e/ou a mãe que amamenta permaneçam com a dieta por tempo prolongado de forma desnecessária.

Apesar de os pais terem receio de fazer esse teste, ele ainda é o único método para confirmar o diagnóstico de AA e para verificar se houve desenvolvimento de tolerância (melhora).

Os critérios para a realização do TPO são:

a) ter seguido corretamente a dieta durante as duas semanas anteriores,

b) não ter recebido anti-histamínico por no mínimo 10 dias,

c) estar em boas condições de saúde,

d) estar em jejum por no mínimo 6 horas.  

 

Durante o teste o alimento suspeito será reintroduzido na dieta em pequenas doses, com aumento progressivo no volume, na presença do médico em ambiente hospitalar ou ambulatorial, a depender do tipo de reação previamente apresentada.

Se a criança apresentar reação após a reintrodução do alimento, a AA é confirmada e a dieta deverá ser mantida por 6 a 12 meses na dependência da idade e da gravidade das manifestações.

Reações não mediadas por IgE e mistas são tardias e a criança pode não apresentar nenhum sintoma no momento do teste. Nesse caso, ela deverá manter o consumo do alérgeno em casa. Se a criança apresentar alguma reação em até 30 dias, após o término do teste, o médico deverá ser avisado e pode ser confirmado o diagnóstico de AA na vigência de sintomas significativos. Caso contrário, o teste é considerado negativo.

Se a criança estiver em AM, o TPO deverá ser realizado primeiro com a mãe, a fim de introduzir as proteínas do alimento via leite materno para a criança.

Se a criança apresentar suspeita de alergia a múltiplos alimentos, o mesmo procedimento deverá ser realizado para outros alérgenos, com intervalo de 15 a 30 dias entre cada um, dependendo do tipo de manifestação clínica.

Tratamento
Tratamento

10 passos para viver com aleGRia após o diagnóstico de alergia alimentar.

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Após a confirmação do diagnóstico de alergia alimentar, o tratamento comprovadamente eficaz ainda é a dieta isenta do alimento responsável pelas reações.

Diferente do que se acreditava há pouco tempo, não é a dieta que garante o desenvolvimento de tolerância ao leite. O objetivo da dieta é evitar que a criança apresente sintomas, os quais podem acarretar riscos potenciais à sua saúde e desenvolvimento.

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Alguns medicamentos podem ser prescritos para aliviar os sintomas, principalmente na fase inicial e/ou em caso de ingestão acidental do alimento. Porém, nenhum medicamento substitui a necessidade da dieta.

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A família de crianças que apresentam reação anafilática deve sempre carregar consigo a adrenalina auto injetável e ser orientada quanto à sua utilização pelo médico, a fim de utilizá-la quando realmente for necessário, não de forma indiscriminada.

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Se a criança consumir algum alimento com leite por engano e os sintomas forem desencadeados, a família deverá seguir a conduta do médico e avisá-lo. Caso os sintomas não melhorem, pode ser necessário procurar um serviço de emergência. É preciso comunicar ao médico de plantão que a criança possui AA. Carregar consigo um laudo do médico associado ao plano de ação emergencial pode auxiliar nesses casos.

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No caso da APLV, alergia alimentar mais comum em crianças, a base do tratamento é a dieta isenta de alimentos que possuem as proteínas do leite (leite, derivados e alimentos preparados com esses ingredientes). Em casos de crianças com alergias a múltiplos alimentos outras restrições serão agregadas.

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Garantir à criança uma alimentação saudável, eficaz para o tratamento da AA, nutricionalmente completa, que não a exclua do convívio social, com um custo acessível e ainda manter a harmonia familiar não é nada fácil. Os desafios enfrentados são diários, pois requerem mudanças na rotina e nos hábitos de todos os envolvidos.

Durante esses anos eu observei que a forma como a família reage ao diagnóstico e lida com a dieta influencia diretamente no manejo da dieta e na forma como a criança cresce.

Pesquisei como eu poderia colaborar para o dia a dia dessas famílias ser mais fácil e desenvolvi os 10 passos que considero imprescindíveis para viver com alegria essa fase em que é necessário conviver com a alergia.

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O passo zero é a aceitação. Portanto, antes de tudo é preciso dizer sim à nova realidade, concordar de coração que seu bebê crescerá muito saudável, apesar de não comer alguns alimentos que as pessoas estão acostumadas a comer.

Acredito que com esses passos a vida das famílias e das crianças poderá ser mais leve, alegre e feliz.

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10 passos para viver com aleGRia após o diagnóstico de alergia alimentar

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passo: Amamente seu bebê. O leite materno é o melhor alimento para o bebês com alergia alimentar. 

Na impossibilidade, verifique com o médico ou nutricionista qual a fórmula adequada à idade e condição clínica. 

passo: Conheça os alimentos que deverão ser evitados. 

passo: Conheça os alimentos que são benéficos à criança e aprenda a variar o cardápio.

          Veja: Como alimentar a criança?

passo: leia sempre o rótulo dos produtos industrializados e prepare alimentos em casa.

          Veja: Rotulagem de Alérgenos

          Veja: Receitas

passo: acompanhe a evolução da criança.

passo: tudo que o bebê precisa é se sentir seguro. 

passo: mantenha a harmonia familiar.

passo: peça ajuda 

passo: inclua a criança e mantenha o convívio social.

10º passo: verifique se a criança já adquiriu tolerância. 

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